Textos, Crônicas e Contos

Uma crônica sobre a saúde.


   
E lá quando findou a Ditadura e o Brasil achou que seria justo com seus filhos foi escrita a Constituição de 1988.

     Logo no artigo seis aparece a saúde como direito social, ou seja, um direito fundamental a ser exercido com igualdade por cada cidadão.

     No artigo sete algo que futuramente soaria como piada, pois aparece como direito dos trabalhadores rurais e urbanos:

"IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim;"

    A palavra saúde aparece 30 vezes na Constituição do Brasil. E ficou marcada eternamente na mente dos brasileiros. Porque saúde é coisa séria, e mais séria ainda se for a "defendida" pelo Estado. Palavra bonita essa, não é? Estado com "E" maiúsculo. Grafado assim é conjunto de instituições que governam uma nação.
Num país justo a manutenção da saúde da população seria a prioridade de qualquer governo, mas no Brasil não.

    O povo brasileiro herdou de Adão a mania de transferir a culpa que lhe pertence a outra pessoa. Lembra da história do fruto proibido? Ninguém obrigou Adão a nada! Eva fez propaganda do fruto e ele de gaiato comeu. Mas quando Deus pergunta se ele comeu do fruto proibido o cara deu uma de político, jogando a culpa na instância que ele julgou inferior:

- Foi a mulher que o Senhor me deu! - E por aí a culpa passou de Eva para a Serpente em fração de segundos.

  Se por acaso perguntar a qualquer prefeito porque a saúde do município que ele governa não anda bem das pernas ele será ágil como seu antepassado:

_ A culpa é do governo que não investe.

    Mas será mesmo assim?

    O Sistema Único de Saúde cobre cerca de 190 milhões de brasileiros. Destes, cerca de 152 milhões de pessoas dependem exclusivamente do SUS para ter acesso a saúde (Que Deus lhes tenha misericórdia) em mais de 6 mil hospitais credenciados, 45 mil unidades de atenção primária e 30 mil equipes de saúde da família! Quantos números!

    Fico pensando se falta investimento ou se o dinheiro é gasto da forma errada. Quando prefeitos dizem que é preciso cortar gastos e ao invés de diminuir regalias ou cargos comissionados mandam enfermeiras e técnicos de enfermagem não usarem cateteres, utilizarem luvas como se fossem garrotes ou deixam de comprar remédios para farmácias básicas. Isso quando não superfaturam os valores dos medicamentos e materiais adquiridos.

    Mas na época das campanhas a saúde é quase um mantra sagrado: "No meu governo vai ter médico todos os dias no hospital!" Só não diz em qual hospital.

   Já vi municípios onde enfermeiros atuam como médicos. Já fui a hospitais mistos onde os atendidos pelo SUS são colocados como os últimos da fila, não importando se chegaram horas antes das consultas particulares. Já vi gente dizendo que o povo merece sofrer pelas más escolhas que faz.

   Não compartilho da ideia de que qualquer ser humano mereça sofrer. Mas as vezes fico tentado a desejar que todos os políticos, do prefeito à presidente fossem obrigados a serem atendidos pelo SUS da mesma forma que um cidadão comum.

   Aí sim, saúde seria prioridade e uma coisa muito certa para todo governante!

Professor Emerson Luiz
autor do blog Amo Venturosa


UMA LIÇÃO SOBRE FORÇA



Um pai viu de longe a cena. Num jogo de futebol onde a rua servia de campo, um menino empurrou e humilhou seu filho quando este sofreu um gol. O humilhado era maior que o menino exaltado e partiu para resolver a questão no braço.

_ Guilherme! - Gritou o pai. - Para casa! Agora!

O menino veio chorando, frustrado em sua vingança.

_ Quem começou foi ele! - Apressou-se em justificar.

_ Eu vi.

_ E por que não me deixou bater nele? Ele falou mal da mãe e tudo!

O pai passou a mão na cabeça do filho depois de fechar o portão.

_ Não deixei que você batesse nele porque você é um bom menino. Pessoas boas devem aprender a conviver com o fracasso e com a sucesso. Os dois tem muito a ensinar. A derrota nos ensina ainda mais, pois nos permite rever estratégias, pensamentos, atitudes e até o valor que damos a algumas pessoas. Os verdadeiros amigos de um homem se apresentam nos momentos em que quase todos acreditam que ele está derrotado.

O seu colega não aprendeu a conviver com o fracasso e isso é ruim. Caso ele não mude sofrerá muito e se subir muito alto poderá ser bem pior. Quanto mais alto se sobe maior é a dor quando se cai. Mas não lhe chamei porque queria ensinar sobre fracasso ou sucesso, queira lhe ensinar sobre força.

Guilherme não mais chorava. Ele olhava atenciosamente para o pai.

_ Você é maior, mais rápido e mais esperto que aquele menino. Com certeza poderia ter lhe dado uma boa surra. Mas a força de um homem não reside em ele poder ser violento com os que não podem se defender dele. Um homem de força não precisa ser violento nem retribuir insultos, meu filho. Um bom homem aceita suas limitações e tenta sempre ser melhor. E lembre: Nunca melhor que os outros, mas sempre melhor para os outros.

Emerson Luiz
Pesqueira, 04 de junho de 2013

UMA CRÔNICA VERONENSE


Willian Shakespeare iniciou uma de suas obras mais famosas na Bela Verona.

Também me preocupo com a Bela Verona.

E em conversas com amigos que amam essa cidade tanto quanto eu, localizamos avanços e alguns dramas na Bela Verona.

Na Bela Verona ainda se faz uso de programas do Governo Federal como se fossem dádivas do Governo Local.

Embora haja grandes esforços para sanar os problemas de saúde existentes no município, o novo governo ultrapassou seus primeiros 100 dias de gestão sem conseguir fornecer pleno atendimento médico à população. 

Corre o boato que na falta de médicos, profissionais de enfermagem assumem essa função, o que espero, sinceramente, que se trate apenas de um boato. 

Se isso for verdade as pessoas que moram em  Verona podem ser vítimas de graves erros médicos. Talvez seja o caso de assim como fez o governo brasileiro abrir as portas para médicos cubanos.

Na Bela Verona também há mistérios. Funcionários que tiveram parcelas de empréstimos consignados em seus contra-cheques sendo cobrados como  se estivessem inadimplentes.  Como isso aconteceu? Só os deuses o sabem.

A Bela Verona continua bela porque essa é a sua natureza. Mas quanta coisa há por baixo de sua maquiagem? Nem aos deuses se confessa!

AQUELA MOÇA DA TELEVISÃO QUE FALOU SOBRE O BOLSA FAMÍLIA


Uma vez curti um vídeo da Rachel Sherazadde - sei lá se o nome se escreve assim e pouco me importo com isso. Ela falava dos pontos negativos do Carnaval e achei seu comentário, naquela ocasião, lúcido e contundente. Hoje volto a ver um de seus comentários, dessa vez sobre o BOLSA FAMÍLIA. Dizia ela que a reação do povo devia servir de aviso. E SE O POSSO SECASSE? E no alto do seu salto caríssimo e de sua pele de tom germânica que causaria arrepios sexuais em Hitler ela conseguiu reproduzir todo o PRECONCEITO DE NOSSA PRETENSA ELITE! Chegou a chamar de PARASITISMO a dependência de tais recursos. QUER DIZER, SENHORITA DAS MIL E UMA NOITES, QUE AS PESSOAS QUE SÃO ASSISTIDAS POR ESSE PROGRAMA SÃO PARASITAS? QUE OS MILHÕES QUE ULTRAPASSAM A LINHA DA POBREZA, QUE PODEM ESTRUTURAR MELHOR SUAS VIDAS E SENTEM SUA VIDA MELHORAR, O MÍNIMO QUE SEJA, SÃO PARASITAS? DISCORDO, TENHO ESSE DIREITO. Gostaria de também ter acesso aos holofotes da mídia para perguntar a opinião da repórter sobre outros seres humanos e saber dela a que se comparam OS BANQUEIROS QUE SONEGAM MILHÕES E COMETEM O CRIME DE EVASÃO DE DIVISAS, OS DONOS DE TELEVISÃO QUE QUEBRAM FINANCEIRAMENTE E VÃO PEDIR APOIO AO GOVERNO FEDERAL E AMEAÇAM COLOCAR EM RISCO O SISTEMA FINANCEIRO DO PAÍS, OS EMPRESÁRIOS QUE INVADEM TERRAS PÚBLICAS E OS BRANDES LATIFUNDIÁRIOS QUE ATERRORIZAM OS PEQUENOS AGRICULTORES COM GRILAGENS E PISTOLAGEM? COMO CHAMAMOS ELES? PARASITAS? ABUTRES? E COMO CHAMAMOS QUEM OS DEFENDE E SE SUBMETE AOS SEUS INTERESSES?


Perguntar não ofende. Ainda bem que o povo deixou de dar tanta importância a jornalista. O povo quer o que é melhor para ele. Boa noite dona Sherazadde, vá contar outra história a pedido do Sultão.


Este é o primeiro conto que disponibilizo aqui no blog. É uma pretensa história de horror, sutil e com algumas limitações. Curtam e, se for de agrado, compartilhem. Só peço que a autoria seja mantida já que este é mais uma forma de divulgar meu trabalho.

Emerson Luiz
O SONHO o atormentou por várias noites. Nele, o homem deixara de ser adulto e voltara a ser uma criança frágil e indefesa assolado pela enfermidade. Voltara ao mesmo quarto abafado com janelas sempre fechadas. A mulher também retornara. O cheiro da morte impregnado nela. Olhos vazios de sentido como que a razão tivesse abandonado o frágil terreno de seus pensamentos.
Há muito tempo ele julgara que aquela mulher era responsável por sua doença. Ela o mantinha cativo em casa, preso numa maldita cama. Ela, a velha mulher triste e louca, aproximava-se dele sempre com cuidado para desatar o nó que prendia sua mão direita à cama e entregar-lhe uma colher. Uma sopa rala de legumes e um pão, era o que comia. Isso ocorria sempre em um período específico de dias. Nos outros ele podia caminhar pelo quarto. Uma algema presa à uma corrente ligada a uma haste de ferro maciço num canto da parede estava no seu calcanhar direito e permitia que ele caminhasse um pouco sem que nunca chegasse muito perto da porta. A alimentação variava nesses dias, mas nunca era consistente o suficiente para que ele se sentisse forte ou saldável.
Era a recordação de uma realidade há muito vivida. Naqueles tempos ele tinha sonhos de liberdade e sonhos de morte. Em algumas noites sonhava que uma força incomum invadia seu corpo e ele era capaz de correr tão rápido quanto o animal mais rápido. Sentia sempre o gosto de sangue e carne fresca em sua boca e o medo o abandonava. Quando acordava estava sempre suado, os nós apertados cortavam sua pele causando sangramentos e dor.
Ele lutava para lembrar seu nome e depois começava a chorar.
Numa noite qualquer, porque ele nunca sabia dizer como o tempo passava, não distinguia os dias da semana ou a passagem dos meses, tudo era igual quando se passava todo o tempo deitado, preso à uma cama, ele escapou. Já era quase um rapaz quando ocorreu. Sonhou com a lua cheia, enorme naquele céu escuro de Agosto. Acordou no meio do sonho e olhou fixamente para a janela fechada que ele sabia existir por trás daquela cortina. O quarto era um breu completo, mas ele a sentia, sabia que estava ali, chamando-o, convidando-o a liberdade.
Um calor sem precedentes invadiu seu corpo. Seu sangue parecia ferver nas veias enquanto o coração acelerou seus batimentos. O menino que agora era quase um rapaz gritava com a dor que irradiava de todos os seus membros. Sentia os ossos quebrarem e voltarem a se unir para em seguida quebrarem de novo. Pelos nasciam em suas orelhas, pés e mãos e começavam a se espalhar por toda a extensão do seu corpo. Os seus gritos se tornavam mais altos e não mais se pareciam com nada humano.
Toda a raiva que ele sentia da mulher que o aprisionara desde o tempo em que ele era capaz de lembrar estava prestes a ser liberada. O gosto de sangue invadiu sua boca e se esvaiu rapidamente deixando uma terrível sede. Novos aromas invadiam suas narinas que eram dilatadas enquanto mandíbula a maxilar se projetavam para a frente e seus dentes se convertiam em presas salientes.
Podia farejar a carne da velha mulher, ouvir seu frágil coração descompassado e sentir junto a isso o doce aroma do medo. Uivou saldando à lua e a fome assassina, recebendo aquilo que ainda não sabia ser a sua maldição.
Quando acordou no dia seguinte estava deitado sobre um túmulo. Seu corpo nu tremia coberto pelo orvalho da manhã. Assim que conseguiu lembrar do seu nome procurou recordar de como havia chegado ali, mas não conseguiu. Furtou roupas que estavam penduradas em um varal numa casa próxima. Surpreendeu-se com a força e a saúde do seu corpo e jamais procurou voltar para o lugar de onde havia saído. Passou a perambular pelas ruas e mendigar por comida.
Durante um mês sonhou com a velha. Ouvia seus gritos enquanto um lobo enorme saltava por cima dela e cerrava sua garganta com os dentes. O sangue jorrava e suas mãos débeis tentavam, em vão, afastar a criatura.
Encontrou outros jovens nas ruas e passou a cometer pequenos furtos em sua companhia. Não falava muito, apenas ouvia o que eles diziam. Havia passado tanto tempo calado que pensou não mais saber conversar com quem quer que seja. A maldita velha quase roubara a sua humanidade.
Perambulavam pelas ruas durante o dia e a noite dormiam num prédio abandonado perto do ferro velho.  Foi assim até a lua cheia.
O quase rapaz acordou nu novamente. Desta vez, próximo a um rio. Não mais sonhou com a velha. Seu sono agora era assombrado por garotos correndo. Seu choro rompia o silêncio da noite enquanto, um a um, eram abatidos pela besta. Um lobo enorme, negro como as profundezas da noite, sedento de sangue.
Aquilo o assustou. Mais uma vez ele teve de se esconder até encontrar (roubar) novas roupas. Andando por uma cidade que ele não conhecia e se perguntando como havia chegado ali soube o que era o verdadeiro terror ao passar defronte a uma banca de jornal e ver a fotografia dos seus companheiros. Ele nunca aprendera a ler, mas sabia que era uma má notícia. O jornaleiro comentou com um homem gordo que comprava cigarros: “Nunca vi nada igual. Que monstro seria capaz de estripar seis crianças?”.
Em seu íntimo ele soube.
Voltou para perto do rio e começou a falar sozinho. Prestou atenção no som da própria voz. Era capaz de conversar com os outros e tinha de ser capaz de aprender. Sentiu que merecia ser punido mas não queria morrer. Ele não tinha culpa.
E o rapaz aprendeu. Cometeu pequenos furtos que iam de relógios à bolsas femininas e carteiras. Não gastava muito dinheiro nem ficava muito tempo no mesmo lugar. Escondia o dinheiro enterrado sob árvores perto das estradas e todo mês mudava de cidade, sempre em direção ao interior.
Todos os meses os sonhos mudavam. Sonhou com um casal namorando em um carro, um zelador, um vigia noturno, dois adolescentes puxando um baseado, um bêbado dormindo em uma rodoviária, uma linda jovem chorando com o coração partido.
E o jovem se tornou homem. Um belo homem, de corpo forte e atlético. Ele nunca adoecia ou se sentia cansado. Deixou de roubar. Com o dinheiro comprou produtos que podiam ser revendidos de cidade em cidade. Percebeu que precisava aprender a ler. Uma tarefa difícil, mas o governo queria acabar com os analfabetos e toda cidade tinha um curso noturno de letramento. Pessoas como o mínimo de instrução se candidatavam à vaga de emprego de professor e não exigiam documentos daqueles que desejavam engrossar o número de suas parcas turmas. E ele frequentou várias delas enquanto vendia escovas de cabelo, óculos de sol, polidores de alumínio, perfumes baratos e fotos de artistas famosos de porta em porta. Seus lucros aumentaram quando encontrou o seu mais estrondoso sucesso: a Bíblia com capa de letras douradas e uma mensagem do Pastor Daniel Collins, um famoso pregador do rádio.  Citava as escrituras para donas de casa e lhes dava o seu mais encantador sorriso regado ao brilho dos seus olhos azuis. Vez ou outra dava a elas mais do que isso: um motivo para rezar pedindo o perdão para sua luxúria.
Depois de muito pensar concebeu um meio de fixar moradia. Escolheu uma pequena cidade do interior e com sua experiência como vendedor se candidatou a um emprego numa fábrica local. Nas noites de lua cheia ele sempre estava fora. Orientou suas ações pelo calendário lunar e sempre se dirigia a lugares isolados. Ninguém chamava repórteres ou policiais quando uma vaca ou uma ovelha eram estraçalhadas.
E o agora homem enamorou-se por uma bela jovem chamada Elizabeth. Ela anunciou que estava grávida e a velha voltou a atormentar seus sonhos.
_ A maldição vai adiante com a sua semente, Michael. Ele matará sua mãe assim como você matou a sua.
 O que fazer? Ele procurou livros, buscou conhecimento, mas tudo que encontrou foi folclore. Suas lembranças eram inconsistentes e vagas, gerando dúvidas e interpretações: Onde estaria seu pai nunca conhecido? Será que o pai que nunca conheceu  tirou a própria vida? Ele deveria cometer suicídio? E a criança? Como continuar seu segredo após o nascimento de outro amaldiçoado?
Certa vez ouviu em algum lugar que o amor era uma ilusão. Uma fantasia criada para embelezar o natural instinto de preservação e perpetuação da espécie. As lágrimas que começaram a surgir em seus olhos sumiram quando ele disse a si mesmo: A autopreservação  supera a perpetuação.
Elizabeth dormia ao seu lado, exausta após horas de amor intenso e selvagem, esboçando o sorriso dos que sonham com dias felizes. Michael alugara a cabana por uma semana em nome do senhor Wilson Smith, morto há dois anos. Estavam no alto da montanha, longe de tudo e de todos. O sol estava se pondo e o céu ganhava um tom de laranja enquanto as primeiras estrelas podiam ser vistas. Em breve a grande lua estaria no auge do seu esplendor. Michael sentia vontade de uivar enquanto começava a salivar a lembrança do gosto de sangue já começava a preencher sua boca.

Caetano, 03 de junho de 2012.






DOMINGO, 29 DE JANEIRO DE 2012


Domingo - Crônica.


O homem levanta e apanha o jornal e vê notícias que não lhe agradam. Toma seu café de forma mecânica e medíocre sem sequer prestar atenção no aroma ou no sabor do alimento. O queijo quente que escorre pelo lado do pão francês não empolga e ele apenas mastiga e engole enquanto olha para a TV. "Trinta canais e nada que valha a pena ser visto", lamenta para ele mesmo.

Tem saudade de outros tempos. Talvez das manhãs em que ia para o sítio, talvez dos jogos de futebol que ocorriam nos dias de glória de sua juventude e talvez de sua cidade, quando as pessoas não se isolavam entre quatro paredes ou em telas luminosas.

Pensa em levantar e ir para qualquer lugar, aí lembra que não tem lugar algum para ir. Ri e se indaga se seria divertido morrer, mas lembra que Deus não gosta muito de suicidas.

Começa a imaginar como deveria ser o inferno. Local angustiante repleto de todo o tipo de obscenidades e torturas excruciantes, onde o diabo sorridente tortura almas sem nunca descansar. 

Como seria o inferno? Aquele lugar de fogo não cabia em sua imaginação. Se o cara que fosse condenado gostasse de ver coisas queimarem ele não seria assim tão ruim. 

Seu raciocínio foi interrompido com um estalo e um pouco de fumaça saindo do receptor da antena parabólica. A velha tv era daquelas que possuía entrada para antenas em "v". Foi até o armário velho e pegou aquela antena velha como ele que nunca soube porque a havia guardado. Coisas de quem gosta de remoer o passado.

Quando a Tv voltou a exibir algo visível o homem percebeu que só poderia escolher entre SBT, Record e Globo. Gugu, Faustão e Celso Portioli.

Agora ele sabia como o inferno deveria ser.


QUINTA-FEIRA, 26 DE JANEIRO DE 2012


Assédio virtual

Bob Marley disse certa vez que os maus não param um só dia, então nós também não podemos parar.

Desde que iniciei minhas atividades como blogueiro me deparei com o melhor e com o pior dos meus conterrâneos. Recebi alguns elogios, algumas críticas construtivas e muitos, muitos ataques cegos e sem fundamentos.

Alguns tentaram fazer deste blog um espaço medíocre para agressões e difamações de figuras públicas de Venturosa como conseguiram fazer com outro espaço da internet. Não me canso de repetir que grandes pessoas debatem ideias, pessoas medíocres debatem pessoas. Pessoas covardes o bastante para disparar seu ódio com a máscara do "anonimato" contra tudo e contra todos. Hoje tenho mais de 30 comentários bloqueados feitos contra Ademar, Eudes, Ernandes, Donizete, Gilvan Andrelino, Dr. Iterbo, Lemos, Padre Fábio e tantos outros, além de ataques feitos a pessoas que se supõe usarem pseudônimos na internet.

Não os publiquei porque acredito que todos são iguais em dignidade e direitos. Provei isso de forma prática quando iniciei uma série de entrevistas e publiquei as mais diversas linhas de pensamento.

Ter liberdade de expressão é ter liberdade para divulgar nossas impressões. Como cidadão fiz críticas a políticas públicas, mas não A PESSOAS. Não tenho propriedade para julgar seres humanos, na fé que professo aprendi que só Deus pode julgar nossos atos, pois só ele é perfeito.

Mas também aprendi que omissão é pecado. Não me omiti diante das ameaças de demissão que algumas pessoas sofreram, não omiti espaço aos professores que discordavam de um projeto de lei ou aos problemas com fornecimento de água ou energia elétrica. Pena que nem todos compreendem o que está escrito.

Sou professor aprovado em concurso público por mérito e não por apadrinhamento.Exerço essa atividade com paixão e acredito, como Paulo Freire, que a educação é capaz de libertar e transformar a realidade.

Mantenho este blog por acreditar que outras pessoas comungam deste pensamento. Amo a cidade de Venturosa, sua cultura e sua gente e por isso escrevo sobre ela, não de cima de um pedestal, mas do meio povo com o qual tenho o prazer de conviver.

Escreverei sobre política. Não tenho a ilusão de que agradarei a todos. Mas tenho como garantir que manterei espaço para todo candidato ou cidadão que queira utilizar deste blog para divulgar suas ideias. Não acho que isso me torne autoritário. Há quem discorde, aqueles que praticam o assédio virtual. "Desça, suba, fale, grite..."

Sou contra assédios virtuais e financeiros.

Escrevo por amor.

Vá entender.

Sinto vergonha



Uma vez postei aqui no blog um vídeo de Rolando Bodrim declamando uma poesia de Cleide Caton intutalada "Sinto vergonha de mim". Antes de externar o que penso quero repetir a primeira estrofe do referido poema:

Sinto Vergonha de Mim

"Por ter sido educadora de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra."

Sinto vergonha de algumas coisas. Sempre defendi (e espero morrer com este princípio) que os debates devem se ater as nobres ideias, e nunca, sob hipótese alguma, recair sobre as pessoas. Defeitos todos temos. O único homem perfeito deu sua vida pela humanidade ao ser imolado numa cruz. Temos o dever de imitá-lo, mas cada um sabe o quão fraco e falho pode ser.

Grandes homens e grandes mulheres cultivam ideais, aspiram atingir o que ainda não se vê e, em sua grandiosidade, sacrificam-se por aqueles que são vitimados pelas opressões e injustiças. A humanidade está repleta de bons exemplos:

Mahatma Gandhi
Martin Luther King
Oscar Romero
Betinho
Madre Teresa
Dorothy Stang
Zilda Arns

Homens e mulheres que desafiaram sistemas e doaram-se totalmente à causa que defendiam. 

E se mostraram.

Foram perseguidos.

E persistiram.

No caminho de uma real democracia e da construção de uma sociedade mais justa e fraterna é normal que pessoas entrem em divergências. No processo de questionamento de modelos políticos também haverá contradições, rupturas e falas e posturas banhadas de indignação.

Como dizia Dom Hélder: "Se discordas de mim me enriqueces". É dever de uma oposição séria e consciente discordar de forma responsável. Mais ainda: é dever trazer na discordância uma alternativa de mudança, uma proposta de dias melhores e de vidas mais dignas.

Sinto vergonha de algumas coisas que leio. Alguns comentários que são enviados a este blog de forma anônima para denegrir e acusar pessoas, banhados com tamanha cegueira que chegam a não respeitar a dor de familiares que ainda sofrem com percas recentes para tecer críticas desprovidas de razão.

Seria mentira dizer que Venturosa não possui o melhor serviço de saúde de Pernambuco? Não. Seria mentira afirmar que nossa cidade ainda não se educou para a paz? Que fomos educados numa cultura de violência e que carecemos não só de um melhor serviço de segurança pública como também de uma sólida educação pautada na ética e no respeito à vida? Não. 

Mas o que não se pode fazer é vestir a máscara do anonimato para distorcer e atacar. Não é justo que na defesa de um ponto de vista uma pessoa ou grupo de pessoas possam difamar, agredir, denegrir e distorcer fatos ao seu bel prazer, tripudiando sobre a dor e o sofrimento alheios. Não é dessa maneira que chegaremos ao que almejamos: uma sociedade mais justa que acolha a todos e lhes dê iguais condições de desenvolvimento.

Tão bela é a democracia! Tão sublime o dom de poder expressar o que se sente! 

Que paradoxo se esconder para defender e atacar ao bel prazer, pautando-se apenas por conveniências momentâneas e vazias de sonhos e ideais.

Não sinto vergonha por todos os comentários anônimos. Muitos me deram prazer, pois também sei que a liberdade de dizer nem sempre é respeitada por todos que tem a liberdade de ouvir. Tenho a certeza que vocês entendem o que quero dizer, e finalizo esta postagem com os últimos versos do poema de Cleide Canton:

Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,

tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!





Era uma vez, num lugar muito muito distante, uma cidadezinha. Nela havia uma câmara de legisladores. E num belo dia o líder dessas pessoas que fiscalizavam tudo resolveu vender o carro.

A fada madrinha veio com todos os anõezinhos do reino e o carro foi vendido.

Então, em outra parte dessa cidadezinha encantada alguém desejou ser motorista. E o desejo foi atendido, ele foi chamado para trabalhar na câmara de legisladores do país das maravilhas, onde não tinha mais carro e todos (inclusive o carro) foram felizes para sempre!

Nunca fui bom com contos de fadas.


Visitei umas salas de bate-papo a procura de Yoda (ele anda sumido e me preocupo quando isso acontece), mas não o encontrei. Depois de um tempo me topei com o amigo J. outra figura mitológica e antológica!

Grande J, que prazer!

J. Olá, grande!

O que fazes da vida?

J. Terminando uma receita.

Receita? De quê?

J. De candidato!

Essa eu nunca vi! Pode me passar?

J. Claro! Primeiro você deve escolher alguém em que possa mandar ou, no mínimo, possa exigir alguma coisa depois que ele for eleito. Não pode ser alguém com muitas ideias porque pode superar você, e é claro, você não vai querer isso!
Depois da escolha feita, é hora de ver os ingredientes. Você vai precisar de muita babosa, quando mais melhor. É a babosa que faz o candidato crescer. Depois que apurar você pega arroz, mistura até aparecer arroz em todo canto: funeral, batizado, festa de sítio, almoço, café da manhã, banco de praça, bar de beira de esquina e todos os outros adjuntórios de gente.
Misturado a babosa com a tendência a ser arroz vamos colocar junto o chuchu. O chuchu não tem gosto, mas pega o gosto de quem tiver melhor perto dele. Só não pode exagerar no chuchu porque é um tempero sem muita confiança.
Nessa hora o candidato já está ganhando forma, está quase parecido com um político!

E o que falta?

J. Ainda falta o cheiro-verde! É um matinho colorido com desenho de onças, araras, peixes e outros animaizinhos muito bonitinhos! Sem isso o candidato não vinga e todos os outros temperos se acabam. Agora você deve procurar um que já tenha isso ou você vai ter de gastar do seu, outra coisa que você realmente não vai querer!

A cor tem influência nessa receita?

J. Nada! Você encontra ele em todas as cores, nem precisa procurar muito longe!

E quando fica pronto rende quantas porções?

J. Aí depende: se ele for muito novo pode render durante quatro anos, mas se já tiver no ponto só dá pra os primeiros seis meses, depois azeda e não dá nada a mais ninguém.

É uma coisa muito complicada J! Quem prepara uma receita dessa não tem muita garantia de retorno.

J. O pior é que já tem gente cozinhando...

Que saudades de Yoda. Quando será que ele volta?